Fluxo e refluxo

Senegaleses buscam melhorar financeiramente no mercado de trabalho de Pelotas

A maioria dos imigrantes trabalha na construção civil; parte do que ganham é enviado para as suas famílias

Jô Folha -

Ao virem para o Brasil, os senegaleses buscam avanço no nível de vida que levam. A preocupação em oferecer melhores condições à família move esses homens para longe, onde acreditam estar a fonte de energia que irá mantê-los. Em Pelotas, muitos foram contratados, enquanto outros seguem trabalhando na informalidade.

De acordo com a coordenadora do Gemigra e do Centro de Direitos Humanos Dom Hélder Câmara da Universidade Católica de Pelotas (UCPel), Ana Paula Dittgen, em Pelotas vivem cerca de 50 senegaleses. Segundo ela, os que atuam em venda informal são minoria - por ainda não terem conseguido estabilidade no mercado de trabalho.

“É importante entender que eles vêm exclusivamente para melhorar de vida para sustentar a família”, esclarece. O imigrante africano, especificamente, chega com o objetivo maior de enviar dinheiro aos familiares. “Muitos deles são casados e têm filhos e, dentro da cultura que vivem, são responsáveis por cuidar dos mais velhos”, explica.

A líder lamenta os episódios de agressão contra os senegaleses. Porém, ressalta avanços. “A primeira vez que eles foram agredidos ninguém fez nada. Em outro momento, a população se manifestou. Essa conduta, a meu ver, demonstra despreparo em recebê-los. Não podemos simplesmente oprimir essas pessoas, sem dar opções a elas”, opina. Contudo, enfatiza que a ideia não é contrapor a ação de fiscalização de ambulantes.

Fé e dedicação
Muçulmanos, a vida dos senegaleses é baseada sobre um tripé que equilibra fé, família e trabalho. “Pertencem a uma cultura em que o trabalho aproxima eles de Deus”, coloca Ana Paula. Aqui em Pelotas, a maioria trabalha na construção civil. Desde 2012 fora de casa, Modou Diouf, 35 anos, afirma ter só agradecimentos aos brasileiros por terem lhe dado oportunidade de crescimento.

Ao sair do Senegal morou um tempo em Cabo Verde, onde aprendeu a falar português - geralmente, um problema para a maioria, devido à dificuldade do idioma. Então, sentiu-se mais preparado e embarcou para o Brasil em 2014. Modou veio em busca de alternativas de trabalho que lhe remunerassem o suficiente para poder ajudar os parentes. “No início foi difícil, mas logo fomos acolhidos”, lembra.

Como é comum acontecer, a empresa contratante de seus serviços na construção civil também proporciona moradia ao trabalhador. Modou divide o local com outros senegaleses, que também vieram sozinhos para Pelotas. Acabam vivendo como uma família, que come, trabalha e reza junto. “A gente veio sem saber como ia ser, mas por ter senegalês com certeza não íamos passar fome”, assegura.

Ao falar nos seus, que estão na África, esboça um sorriso largo: Modou está quase voltando para casa. “Muita saudade”, sorri. Por telefone e internet ele tenta diminuir a distância da namorada - que não encontra há quatro anos -, da mãe e do restante da família e dos amigos. “Quero voltar, já andei bastante”, reflete.

Quanto ao tempo do lado de cá, afirma que levará mais experiência de vida. Embora tenha sofrido com a discriminação, prefere não aprofundar o assunto. “Tem um ou outro que olha estranho pra gente, mas são muito poucos. Brasileiros nos receberam muito bem. É um povo de paz”, resume, sorridente.

 

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